REAL DOG 


de 4 a 7 de Julho DE 2018  no NEGÓCIO ZDB


Este projecto é sobre o momento em que somos atingidos pelo que nos olha. Sobre o que tomamos como visível e invisível, sobre o que está em diálogo e não vês. "A visão que se choca com o inelutável volume dos corpos"[1]. O que escolhemos olhar e o que recusamos?

A criação tem como ponto de partida a expressão "baseado em factos verídicos", largamente utilizada na produção cinematográfica. Quando contamos uma história, está implícito que aquilo que dizemos, que os factos que descrevemos alegadamente aconteceram e as coisas são o que mostram ser, partindo desta premissa estamos num terreno perigoso do qual não podemos fugir.



Real Dog é um campo minado, onde as fronteiras são invisíveis, lugar frágil entre nós e as imagens, onde as relações entre pessoas, objectos e lugares subvertem-se num piscar de olhos.'

Solange Freitas

[1] DIDI-HUBERMAN, G. O que vemos, o que nos olha. S. Paulo: Ed. 34, 1998.

Ficha Artistica

Direcção | Solange Freitas
Co-criação e Interpretação |Luís Puto, Solange Freitas, Rui Neto
Música e Interpretação| Teresa Castro
Desenho de Luz | Rui Monteiro
Produção de Som e Vídeo| André Guerreiro
Maquete| Margarida Silva
Produção | Vertigo
Co-Produção| ZDB
Residências | Negócio/ZDB, O Espaço do Tempo, Companhia Olga Roriz
Apoios| Câmara Municipal de Lisboa/Polo Cultural das Gaivotas | Boavista

Duração| 50m

'Real Dog', de Solange Freitas, estreia esta quarta no Negócio/ZDB

por Miguel Branco 

Quem nunca acordou a querer assaltar um banco que atire a primeira pedra. 'Real Dog', a nova peça de Solange Freitas para ver até sábado no Negócio/ZDB, parte da ideia de "baseado em factos verídicos" para fazer a sua versão de uma história real. Ou não.

Real Dog, nova criação de Solange Freitas - que trabalhou durante largos anos com Catarina Vieira e ainda com tempo para se cruzar com John Romão, Tiago Cadete, Mickaël Oliveira, entre outros - para ver no Negócio/ZDB de quarta a sábado, é mais sobre o filme que Sidney Lumet (realizador norte-americano) viria a fazer em 1975, é mais sobre a vídeo-instalação que Pierre Huyghe (artista plástico francês) fez com John em 1999, do que sobre o assaltante. É mais sobre o "baseado em factos verídicos", sobre como fazer uma reconstituição nunca é rigorosamente factual, sobre como a memória é uma tipa de quem devemos sempre desconfiar.

No arranque anuncia-se o evento, está lá a mesa que serviu todo o processo até aqui chegarmos e que continua a ser o centro do espectáculo, com dois telefones - porque a polícia precisa de negociar; porque os actores precisam de falar -, uma maquete do edifício do banco de Brooklyn e uma tela onde se projectam imagens diversas, sobretudo aquelas que saem do revólver-câmara. Que, como Solange Freitas (que também conta com Luís Puto e Rui Neto na co-criação e interpretação) confirma é um objecto que sucinta uma ideia de fazer teatro: "Sim, há um bocado aquela ideia do documental, de uma maneira de ver o teatro. Tem essa coisa da reconstituição, quase forense", diz antes de Luís Puto acrescentar: "É a reconstituição da reconstituição da reconstituição da nossa própria reconstituição".

22 de agosto de 1972. John Wojtowicz decide assaltar um banco em Brooklyn para pagar a operação de mudança de sexo do seu amante. Arrancavam os movimentos de igualdade de género, de transexualidade, assim como os grandes eventos mediáticos com cobertura em directo. Era a excitação da televisão, que era tanta que mal se soube da história - mal vieram os tais movimentos ou meros populares apoiar a causa de John - o então Presidente Nixon viu o seu discurso interrompido. Isso John conseguiu. Isso e muito mais.


Solange Freitas chegou a John Wojtowicz - que depois do filme de Dog Day Afternoon (1975) ficou mais Dog do que John, alcunha que lhe é dada no grande ecrã - depois de ver a obra de Huyghe. Depois viu o filme, depois quis fazer diferente. Isto porque, embora Dog não se tenha revisto naquele filme foram os direitos do mesmo que permitiram pagar a operação do amante, com quem viria a casar.

O trio em cena quase que também assaltou o banco. Também parecem atrapalhados como John e os dois parceiros de crime, "como é que é agora? como é que continuamos isto?". Ora é precisamente essa vontade, ou hesitação, essa disputa com a memória, que é o motor de Real Dog. Até porque, afinal, quem é que sabe o que jantou ontem?

Negócio/ZDB. Qua-Sáb 21.30. 5€-7,5€.

Direcção Solange Freitas Co-criação e interpretação Luís Puto, Rui Neto e Solange Freitas Música Teresa Castro (Calcutá e Mighty Sands).

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